Que a biotecnologia ganhou bastante popularidade nos últimos anos é indiscutível, a criação de vacinas contra a Covid-19 por empresas farmacêuticas fez com que a área ganhasse uma enorme visibilidade no país e no mundo, mas nem só de vacina vive a biotecnologia! Apesar da visibilidade, é comum as pessoas não entenderem o que realmente é essa “nova” área da ciência, pois saiba que a biotecnologia é muito mais ampla e antiga do que você imagina.
Mas afinal, o que é a Biotecnologia?
A Organização das Nações Unidas, a ONU, define a biotecnologia como “qualquer aplicação tecnológica que use sistemas biológicos, organismos vivos ou derivados destes, para fabricar ou modificar produtos ou processos”, de maneira mais simples, a biotecnologia é o uso dos seres vivos para produzir algo que seja de interesse para o ser humano. A palavra tem origem grega: “bio” significa vida, “tecno” vem de “tékhne” e significa produzir, criar, e “logia”, de “logos” e significa estudo, conhecimento.
O termo biotecnologia foi criado no século XX, em 1919, por Karoly Ereky, o pai do conceito de biotecnologia. No entanto, ela já era praticada há mais de 6000 anos pelas primeiras civilizações, a produção de pães, iogurtes, queijos, vinhos e cervejas são todos processos biotecnológicos que o ser humano realiza há milênios através do processo de fermentação.
Por estar presente no cotidiano do ser humano desde o início, a biotecnologia é dividida em três partes:
Biotecnologia Antiga: é marcada por processos já descritos anteriormente, como a produção de pão, vinho, iogurte, cerveja, hidromel, queijo e, até mesmo, a carne de animais e o cultivo de plantas também podem ser considerados produtos biotecnológicos.
Biotecnologia Clássica: começou no século XVII, quando Anton van Leeuwenhoek utilizou um microscópio e observou, pela primeira vez, a existência de microrganismos. Já em 1876, Louis Pasteur demonstrou como esses microrganismos eram os responsáveis pelos processos fermentativos. No entanto, dentre os diversos avanços, aquele que ficou mais conhecido foi feito em 1928, quando Alexander Fleming criou a penicilina.
Biotecnologia Moderna: é a que perdura até a atualidade, seu início foi marcado em 1953, com a descoberta da dupla hélice de DNA, seguida por grandes descobertas científicas que impactam até hoje a vida do ser humano, como o sequenciamento do DNA em 1974 e a produção de insulina recombinante em 1978.
A Biotecnologia e sua Multidisciplinaridade
Por ser extremamente ampla, abrangendo diversas áreas da ciência, a biotecnologia é dividida em áreas, cada uma com a sua cor:
Biotecnologia vermelha: é a área que está ligada à medicina tanto humana como animal, atua no desenvolvimento de vacinas, remédios, terapias genéticas, formas de tratamento e diagnóstico entre outros. Em geral, é responsável por melhorar a saúde e qualidade de vida do ser humano.
Biotecnologia cinza: é responsável pelos cuidados com o meio ambiente, tem como objetivo prevenir e resolver danos causados ao meio ambiente, como o reaproveitamento de resíduos, tratamento de águas residuais, saneamento de solos, além da preservação de águas, solos e floras em geral.
Biotecnologia azul: voltada para a pesquisa no fundo do mar, a grande biodiversidade presente nos mares traz diversos recursos a serem explorados que podem ser aplicados em outras áreas, como novos biomateriais, medicamentos, cosméticos, formas de remediação de ambientes e diversos outros usos.
Biotecnologia branca: seu foco são os processos industriais, como o melhoramento de bioprocessos, a busca de catalisadores e outros componentes que tornem a produção mais sustentável e eficiente, muito presente na produção de biocombustíveis, alimentos, e, até mesmo, na indústria têxtil.
Biotecnologia dourada: é a área da bioinformática e nanotecnologia, é muito importante para a criação de algoritmos, programas e outras ferramentas para analisar o grande volume de dados de bancos genéticos nos acervos científicos, além disso, também está relacionada com a criação de nanomateriais e biosensores que podem ter diversos usos como na medicina e agricultura.
Biotecnologia preta: área voltada para fins que, em geral, não beneficiam o ser humano como armas biológicas e bioterrorismo, no entanto, é uma área muito importante já que ajuda policiais e militares a criar medidas para combater esses males e desenvolver novas formas de perícia criminal.
Biotecnologia roxa: é o tipo de biotecnologia voltada para fins éticos, como as leis, o desenvolvimento de patentes, propriedade intelectual, discussões éticas e morais
Biotecnologia marrom: assim como a biotecnologia azul está voltada para o mar, a biotecnologia marrom volta-se para os solos, mais especificamente os solos desérticos, tem como objetivo criar meios de aproveitar ambientes desérticos, como a produção de plantas transgênicas que suportem a seca e sejam capazes de suportar esses ambientes, assim como metodologias para gestão de recursos.
Biotecnologia verde: é a área da agricultura, especializada em melhorar plantas para aumentar a sua produtividade, assim como formas de controlar pragas e doenças que afetam as produções agrícolas. Também atua no melhoramento de rações destinadas a animais.
Biotecnologia amarela: responsável pela qualidade dos alimentos, também é a área mais antiga. É aquela que melhora e inova a produção de alimentos, assim como procura formas de tornar os alimentos mais nutritivos e saudáveis para o consumo humano, além de lidar com os riscos de alergias.
A Biotecnologia no Cotidiano e no Futuro
Apesar de muitos não saberem, é graças à biotecnologia atuando na criação de vacinas, medicamentos e soros que o ser humano foi capaz de aumentar tanto a sua expectativa de vida. A busca de novos fármacos e tratamentos trouxe uma grande qualidade de vida para diversas pessoas como os diabéticos, que utilizam a insulina recombinante e também no controle de doenças epidêmicas como a febre amarela, a varíola e a própria Covid-19.
Mesmo com todos os benefícios que a biotecnologia trouxe até a atualidade, com os avanços científicos, somos capazes de trazer ainda mais inovações para a sociedade, como a cura de doenças raras através de terapia gênica, produção de órgãos a partir do próprio DNA, a cura do câncer e do HIV e, teoricamente, é possível até mesmo nunca mais envelhecer!
No entanto, como dito anteriormente, a biotecnologia não afeta apenas a saúde humana, visto que a contaminação do meio ambiente está destruindo a biodiversidade presente em variados biomas, o que pode resultar na própria extinção do ser humano, sendo uma das formas de remediar esses espaços poluídos seria a utilização de plantas transgênicas que sejam capazes de absorver os metais pesados presentes em solos contaminados pelas suas raízes.
Nesse sentido, dentre os diversos problemas que o mundo possui e que podem ameaçar a espécie humana, destaca-se o alto crescimento populacional, que causa o esgotamento dos recursos do planeta, sendo o alimento um desses recursos. Logo, uma forma de evitar com que as sociedades passem por esse tipo de crise seria a otimização de bioprocessos e o uso de plantas transgênicas com uma alta produtividade, para que os recursos sejam melhor aproveitados, evitando o desperdício e aumentando a disponibilidade de alimentos.
Portanto, é perceptível como a biotecnologia foi, é, e continuará sendo extremamente importante para o desenvolvimento do ser humano, os diversos avanços que podem ser obtidos através dela são inimagináveis. Logo, é de extrema importância que essa área receba mais atenção, visto que a profissão de biotecnologista ainda não é regulamentada no Brasil, o que dificulta o desenvolvimento dessa ciência no país, mas torcemos para que no futuro a área cresça e receba o reconhecimento que merece.